27.6.12

LACK OF DEW









































































A Serenata Junina foi um evento expressivo. Gerou polêmica, argumentações energéticas e opiniões contrastantes quanto à natureza e o decorrer do evento. Foi durante essa noite que exerci minha atividade mais querida, encontrei vários amigos e vivi com gosto um espaço amado. 


Acredito que a Serenata não tenha sido ligada a partidos ou especulação imobiliária na sua essência e na cabeça dos organizadores por trás do evento. Não vi qualquer ação partidária explícita, mesmo sabendo que implicitamente bandeiras podem ser levantadas. Não interessa. De nenhuma forma mentalizei partidos ou pensei que o acontecimento se devia ao esforço da atual prefeitura em época de eleições. Mesmo com ela apoiando e viaturas da guarda municipal transitando, até o momento que fui embora não vi barreiras a fruição de liberdades individuais. Desculpem-me os que possam ter sido barrados, mas meu relato aqui está baseado no que observei.


Também acho ficção das boas algumas histórias espetaculares que surgiram como a do fotógrafo-espião com interesses malévolos que tenha precisado se esconder atrás da moita para espionar os jovens que faziam piquenique. Esse tom de argumentação beira um pouco a esquizofrenia e isso me parece ser interpretação um tanto fantasiosa e espetacularizada de qualquer diálogo com essência reacionária que se possa travar por aí com outro cidadão. Dá pra lidar com a mesma base de argumento sendo um pouco mais razoável no tom.


Especulação e valorização imobiliária não estão unicamente ligadas a ocupação de espaços como essa, nem só as ações que demandem melhorias para determinadas áreas ou o sentir-se seguro nas ruas a noite porque dentro do coletivo. Especulação imobiliária existe nas mais diversas facetas, sempre existiu com o crescimento das cidades, muda a cada ano, e, por mais terrível e baixa que seja, vai continuar existindo e é bem possível que só piore se o modelo economico continuar nos mesmo moldes absurdos e feios do momento atual. Os  motivos para haver valorização são muitos, dos mais diversos e nos níveis mais discrepantes possíveis - tanto a construção de uma nova praça quanto um shopping pode valorizar muito um bairro antes esquecido, por exemplo.
Iluminação e cercamento de praças também podem valorizar o metro quadrado de uma área, mas me parece ingenuidade pensar que, para tanto, poderes publicos/privados usarão eventos com a cara jovem da "colaboração" para chamar atenção à causa sem serem percebidos (não nego que isso aconteça, só não acredito que tenha sido o caso aqui). Mesmo se esse evento fosse idealizado  para que o setor privado pudesse usar como massa de manobra os "jovens ativistas" e a qualidade espontânea do acontecimento para dar vazão aos seus valores, o que vi sábado não foi exatamente o que imagino ser uma "boa publicidade". O engajamento que observei está mais para uma espécie bem particular de engajamento boêmio pelo encontro e ocupação do espaço publico do que gritos e faixas por melhor iluminação ou policiamento. Não vejo na queima da grama do parque e no lixo deixado após a passagem da massa de jovens ébrios e bagunceiros grande motivação para os setores públicos ou privados. Deixo claro aqui que faço parte dessa massa ébria e bagunceira e que não vejo nada de errado nisso se a bagunça for no sentido da diversão e não da violencia.


Sim, sou contra o cercamento. Sou a favor de iluminação ainda mais forte na área "central" da redenção (é claro, fotografia é feita de luz). Sou a favor de baixa luz ou completa escuridão nas demais áreas. Que entre ali quem quiser, que mereça aquela área qualquer ser que prefira a atividade baseada na pouca ou nenhuma luz da noite. Todos são dignos de espaço adequado, seja feito de luz ou de breu e cabe a cada um de nós escolher por onde passar. Risco corremos o tempo todo, e não dá pra culpar só a luz (ou falta de) por isso.


Minha visão geral do que aconteceu de mais turbulento nesse agrupamento foi a confusão dos organizadores no momento da definição de uma proposta clara. Se falou em "horizontalidade" e "pessoas comuns", seguido de "grupos" e "organizações". Por mais que o evento tenha sido elaborado por pessoas comuns, vai contra por essência conectar/promover grupos já estabelecidos que são apoiados por empresas quando se quer colocar o evento na esfera do individual/comum. Melhor que tivessem dito em bom tom "esse evento foi idealizado por tais pessoas dos grupos fli, fla e flu que vislumbram tais objetivos:" ou qualquer coisa que afaste uma noção confusa quanto a motivação e os motivadores de um acontecimento.


Sim, é MUITO importante. Quando um evento se dispõe a juntar um grande número de pessoas com um ou mais ideais imaginados, a proposta precisa ser clara para que eu (e muitos outros que se importam) me posicione a favor ou contra. Toda a polêmica inicial me parece ter vindo de uma fenda na colocação da natureza do evento. Confundiu-se termos. Misturou-se intenções. Abriu-se espaço tanto para boatos quanto para verdades coerentes que surgiram em forma de dúvidas. O que veio depois cresceu se alimentando disso, por mais que os organizadores não fizessem idéia, de início, da repercussão de suas definições (ou falta de) e do tipo variado de questões que o evento levantaria (conhecendo pessoalmente alguns dos organizadores, acho mesmo que não previam). O que é bonito de ver é que sim! Questões surgem e tem valor imensurável.


Fora as fogueiras que detonaram a grama e a falta de latões grandes de lixo (e acúmulo chocante do mesmo), o evento me pareceu visar o encontro acima de qualquer interesse vil e foi um sucesso no sentido humano, de confraternização, de ocupação do espaço público. Eu sou completamente a favor de ir no melhor parque da minha cidade a noite. Eu sou a favor de estar na rua e não dar vazão ao medo que reprime os encontros e as trocas. Numa próxima, se houver organização prévia, que nos coloquemos com a maior transparência possível. A comunicação é delicada, cometemos erros e nunca seremos tão claros e abrangentes como gostaríamos (entro aqui), mas o esforço nunca é em vão se o objetivo é o bem. Quero sempre e cada vez mais que sejamos atentos à natureza dos projetos que visam o espaço público e quais suas principais intenções. Nossas decisões serão feitas com base nisso e a argumentação sempre será saudável no momento em que nos dispormos a ser tanto voz quanto ouvido. Que sejamos críticos e pertinentes nos nossos questionamentos, mas não espiados, pois isso gera muitas vezes desconfianças infundadas e respostas agressivas. Preciosos aqueles que, sem querer, me fizeram questionar e escrever até aqui.


Quero continuar fotografando a noite, as reações mais particulares que só observo com a liberdade das baixas luzes, os rostos mais diversos que aparecem para encontrar outros rostos. Essa noite de sereno não foi diferente. Que venham outras, que sejam sempre mais bonitas e cada vez mais coerentes em suas motivações.    

20.6.12

LACK OF TUESDAY


foi a última terça-feira do tutti, mas nem de perto a última terça-feira da borges com a duque. 

18.6.12

LACK OF POTATO SALAD


 
I thought it would be too much potato, but I was wrong.